Eu não tenho mais interesse em conhecer gente estranha e ouvir histórias
novas só pra te contar depois. Sinto falta da minha necessidade
constante em te procurar em tudo, querer você pra tudo, ter você pra
tudo. Não sinto mais os pelos da nuca se eriçarem só porque tem você
atravessando a avenida ou porque tem você destruindo a minha cozinha com
uma receita horrível. O frio na barriga ao ouvir a tua voz ou ao ler o
teu nome, enfim, desapareceu. O mundo voltou a ser o que ele sempre foi:
chato, entendiante e bobo. Sem você, agora, eu não consigo mais gostar
de qualquer ser humano anencéfalo só porque ele, de certa forma, tem
algo que me lembra você. Meu coração deixou de se sentir tão grande, mas
tão grande à ponto de não caber mais aqui dentro: agora ele bombeia o
sangue do meu corpo sem jogar nas minhas veias hormônios de amor.
Confesso, tenho que fazer um esforço maior pra sair de casa ultimamente.
Meu quarto havia deixado de ser o melhor lugar do mundo e o sol tinha
deixado de ofuscar a minha visão, mas agora tudo voltou ao normal. As
cores não mais se misturam nos meus dias, a minha preguiça continua a
maior de todas e a minha autoestima voltou à estaca zero, como sempre
foi. Todo mundo comentava o quanto eu havia mudado, evoluído e andado
pra frente depois que te conheci; agora eles passaram a me olhar com o
mesmo olhar indiferente de sempre. Eu conseguia gostar deles porque
tinha você, assim como eles conseguiam gostar de mim porque com você eu
era alguém melhor. Até que tudo de maior importância passou a ser apenas
tudo, sem tanta importância assim. Você foi embora, eu sei, mas o resto
do mundo - que também inclui o meu coração - ainda não sabe. Eles me
perguntam sobre você enquanto eu ando apressada e desesperada e morrendo
e com medo de tudo, porque a sua ausência ainda é desesperadora no fim
de cada 24 horas. Eu vou a festas, conheço pessoas, provo novas bebidas,
dou gargalhadas e tudo parece tão bem. A vida se transforma em outra
sem ser a minha, eu viro outra sem ser eu mesma e a terra muda de
endereço pra outro planeta. Até que a noite vem e as luzes dos prédios
se apagam, o cachorro da vizinha para de latir e as folhas das árvores
balançam como se dançassem pra lua. E é aí, quando nenhuma estrela
sequer ilumina o céu, que eu olho pra ele e sinto a sua falta. Ninguém
entende, ninguém sabe, eu também não. É tão estranho ter o mundo nas
mãos e, de repente, se sentir minúscula demais pra ele. E daí se esconde
aonde?
— Capitule
Nenhum comentário:
Postar um comentário