Sinto falta da perdição involuntária que era congelar na sua presença
tão insignificante. Era a vida se mostrando mais poderosa do que eu e
minhas listas de certo e errado. Era a natureza me provando ser mais
óbvia do que todas as minhas crenças. Eu não mandava no que sentia por
você, eu não aceitava, não queria e, ainda assim, era inundada
diariamente por uma vida trezentas vezes maior que a minha. Eu te amava
por causa da vida e não por minha causa. E isso era lindo. Você era
lindo. Simplesmente isso. Você, uma pessoa sem poesia, sem dor, sem
assunto para aguentar o silêncio, sem alma para aguentar apenas a nossa
presença, sem tempo para que o tempo parasse. Você, a pessoa que eu
ainda vejo passando no corredor e me levando embora, responsável por
todas as minhas manhãs sem esperança, noites sem aconchego, tardes sem
beleza.
— Tati Bernardi
— Tati Bernardi
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