Mas a saudade mais dolorida é a
saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da
presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no
quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele
para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o
dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro
sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.Saudade é não saber. Não saber
mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua
clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber
se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem
comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele
aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros,
se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele
continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela
continua lhe amando.Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que
ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o
pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber
como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.Saudade é não querer saber.
Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais
magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama,
e ainda assim, doer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário