Você senta do meu lado e olha pra janela, e eu não ergo a cabeça
enquanto escrevo que sinto sua falta na borda da minha página, mas você
não viu, não ouviu o que eu não disse. Você também não diz nada, e
evitamos nos olhar nos olhos, então nos levantamos e nos afastamos outra
vez. Alguém fez um comentário sobre a nossa mudez, fingi não ouvir,
você virou o rosto, virei a esquina, você continuou andando em linha
reta, não disse um até logo, você não disse adeus. Desligo o rádio
quando começar a tocar aquela música que cantávamos juntos, você
pergunta a uma amiga como eu estou. Escureci os cabelos e você passa
mais tempo mexendo no telefone, eu gasto tempo na academia e não
passamos mais juntos em nenhum lugar. Dessa vez você volta pra casa, mas
eu decidi ficar. Falamos nossos nomes inteiro e fingimos que não temos
mais nada em comum. Você mudou de casa e eu não tiro mais fotos. E o que
seria de mim sem você cara, o que será de mim? Não penso muito nisso,
não consigo falar teu nome sem que um bolo estrangule minha garganta.
Meu olhar ficou três segundos a mais no teu rosto e quase achei que
também queria que nossos corpos quebrassem a distância e se abraçassem.
Fingi não me importar quando você passou por mim no corredor sem nem um
aceno, aprisionei as lágrimas no canto dos olhos, porque tinha medo de
que se começasse não conseguisse parar nunca mais. Como não conseguimos
manter uma conversa banal, e usamos nossos nomes inteiros, como se não
no conhecêssemos mais. Liguei meu celular depois de quase uma semana,
não estava te evitando, estava evitando lembrar da tua voz do outro
lado, evitando procurar aquele número que sempre batia recorde nos
registros e que não existia mais na lista telefônica e tentar ouvir de
novo. Não te chamo de volta porque não suportaria te ver indo embora
outra vez, evitei teus olhos porque tento remediar a certeza de que
nunca mais te abraçarei. Ninguém sabe do rombo que ficou em mim daquilo
que não ouso falar porque não cabe em palavras. E não consigo viver de
passado porque ele perdeu o sentido, como todos os nossos planos, como
aquele aperto lá no fundo quando lembro da puta saudade que sinto do teu
cheiro, do teu calor e estaco pra não sentir vontade, pra reprimir a
vontade de correr e jogar na tua cara aquela promessa de nunca ir
embora, e você foi. E nada no mundo me serve de consolo, não sobrou nada
pra recolher meus pedaços, e evaporei de um jeito tão intenso que não
sobrou nenhum vestígio, ninguém pode me achar, não serei de mais
ninguém. Insônia faz parte de mim da mesma forma que o teu cheiro de
tabaco impregna minhas narinas, como um rosto de menos de vinte e uma
alma de quase quarenta, como aquele arrependimento que goteja e irrita
como unhas riscando quadro de giz, como nossos risos separados, como
tanto olhares desconexos, enfim, sendo que o mesmo silêncio que nos
mata, também nos torna eternos.
— E sim, sinto sua falta, pra caralho. N.B.
— E sim, sinto sua falta, pra caralho. N.B.
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