quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

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Você senta do meu lado e olha pra janela, e eu não ergo a cabeça enquanto escrevo que sinto sua falta na borda da minha página, mas você não viu, não ouviu o que eu não disse. Você também não diz nada, e evitamos nos olhar nos olhos, então nos levantamos e nos afastamos outra vez. Alguém fez um comentário sobre a nossa mudez, fingi não ouvir, você virou o rosto, virei a esquina, você continuou andando em linha reta, não disse um até logo, você não disse adeus. Desligo o rádio quando começar a tocar aquela música que cantávamos juntos, você pergunta a uma amiga como eu estou. Escureci os cabelos e você passa mais tempo mexendo no telefone, eu gasto tempo na academia e não passamos mais juntos em nenhum lugar. Dessa vez você volta pra casa, mas eu decidi ficar. Falamos nossos nomes inteiro e fingimos que não temos mais nada em comum. Você mudou de casa e eu não tiro mais fotos. E o que seria de mim sem você cara, o que será de mim? Não penso muito nisso, não consigo falar teu nome sem que um bolo estrangule minha garganta. Meu olhar ficou três segundos a mais no teu rosto e quase achei que também queria que nossos corpos quebrassem a distância e se abraçassem. Fingi não me importar quando você passou por mim no corredor sem nem um aceno, aprisionei as lágrimas no canto dos olhos, porque tinha medo de que se começasse não conseguisse parar nunca mais. Como não conseguimos manter uma conversa banal, e usamos nossos nomes inteiros, como se não no conhecêssemos mais. Liguei meu celular depois de quase uma semana, não estava te evitando, estava evitando lembrar da tua voz do outro lado, evitando procurar aquele número que sempre batia recorde nos registros e que não existia mais na lista telefônica e tentar ouvir de novo. Não te chamo de volta porque não suportaria te ver indo embora outra vez, evitei teus olhos porque tento remediar a certeza de que nunca mais te abraçarei. Ninguém sabe do rombo que ficou em mim daquilo que não ouso falar porque não cabe em palavras. E não consigo viver de passado porque ele perdeu o sentido, como todos os nossos planos, como aquele aperto lá no fundo quando lembro da puta saudade que sinto do teu cheiro, do teu calor e estaco pra não sentir vontade, pra reprimir a vontade de correr e jogar na tua cara aquela promessa de nunca ir embora, e você foi. E nada no mundo me serve de consolo, não sobrou nada pra recolher meus pedaços, e evaporei de um jeito tão intenso que não sobrou nenhum vestígio, ninguém pode me achar, não serei de mais ninguém. Insônia faz parte de mim da mesma forma que o teu cheiro de tabaco impregna minhas narinas, como um rosto de menos de vinte e uma alma de quase quarenta, como aquele arrependimento que goteja e irrita como unhas riscando quadro de giz, como nossos risos separados, como tanto olhares desconexos, enfim, sendo que o mesmo silêncio que nos mata, também nos torna eternos.
E sim, sinto sua falta, pra caralho. N.B.

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